Um cenário de crise leva as organizações, profissionais, estudantes, enfim, todos a refletirem sobre o que está acontecendo e o que será necessário fazer para superar o momento. Um ponto de atenção sobre isso, é que muitas vezes ações são adotadas sem o menor alinhamento ou mesmo uma estratégia mínima que almeje atingir algum objetivo.

Olhando para organizações, infelizmente o corte de custos em folha, ou seja, pessoal (RH) acaba sendo a ação número 1. Isso porque a cultura organizacional (falo isso porque é a empresa e não a cultura brasileira, uma vez que temos organizações no Brasil que tem de fato pessoas em primeiro lugar) leva a “falsa” crença que olhar somente para o financeiro e ver corte de pessoal (afinal é um dos maiores custos de uma organização) é a melhor solução para uma crise. Ai que começamos o problema.

Olhando para os profissionais, podemos separar os níveis: executivo e operacional. O “corte” geralmente (não é uma regra) inicia pelo menor nível e em larga escala, ou seja, se estamos falando de uma empresa de grande porte, significa uma “massa” de pessoas demitidas e que irão buscar realocação profissional em outros segmentos. O impacto da crise!

Da mesma maneira que as organizações buscam se preparar e agir para a crise, os profissionais também precisam, porém, quando “já aconteceu”, muitas vezes a preparação acaba sendo deixada de lado. Observe, quando falamos de 2009, o país (Brasil) estava na “crista da onda”, com oportunidades para todos (organizações, profissionais, estudantes, investidores, empresários, dentre outros), quem “jamais” iria falar que alguns anos depois estaríamos na maior crise de toda a história. Entretanto, isso não significa que o mundo vai acabar e mais, que ainda existem OPORTUNIDADES para todos, basta refletirmos e compreendermos qual o melhor caminho a seguir de acordo com nossas limitações.

Falando do indivíduo e não mais das organizações, vamos entender o que aconteceu. Porque a situação ficou da maneira que está e o que podemos fazer para buscar o realinhamento com o atual cenário e seguir em frente?

(Observe que não será a solução para a crise e para o desemprego, mas sim uma reflexão de como podemos buscar um cenário melhor para todos nós)

No mercado de gerenciamento de projetos, ao qual irei utilizar como exemplo, e claro, como outros segmentos, sofreu um grande impacto com a crise. No estado do Rio de Janeiro, podemos considerar duas grandes “ondas” de crise, a crise do país e a crise do setor de energia, onde muitos profissionais sofreram com demissões em massa, alteração de salário, perda de cargo / função e outros.

Uma disciplina ou tema ou ferramenta (de acordo de como visto), o gerenciamento de projetos em momento de crise, torna-se ainda mais um diferencial para a organização, pois se estamos falando de investimento (mesmo que ainda tenha tido alto impacto com a crise) as organizações ainda sim precisam de profissionais de projetos e que, cada vez mais, tenham efetividade na integração dos envolvidos na execução e entrega de resultados. Pasmem!

Ainda falando deste segmento (GP) vamos considerar profissionais que ficaram 05, 10, 15 anos fazendo este papel (gerente de projetos) em uma área do setor de energia (exemplo citado com segunda onda de crise no Rio de Janeiro). Porque que em 2009 (outros tempos) tínhamos tantas vagas em aberto que nem sequer conseguiam ser preenchidas, pois a maioria dos profissionais estavam alocados e “bem” ($) alocados?

Me recordo que na época apoiei uma multinacional na divulgação de vagas para analistas de projetos (Sr.) por meses e não conseguiam contratar ninguém (considerando as condições). Em tempos atuais acho que não seria assim.

 

LIMITAÇÕES TÉCNICAS
Vamos a um exemplo: Um profissional que trabalhou anos como integrador em projetos em Engenharia de Poço, especificamente com “Perfuração de Poço” (drilling), realmente adquiriu um know-how incrível, inclusive sobre regras de negócio de exploração e produção; se tornou um “expert” no assunto, sendo muitas vezes procurado para saber e opinar em decisões estratégica sobre o tema.

O primeiro ponto a refletirmos será a compreensão de quais são as limitações técnicas desta história, ou seja, saber até quando vai o conhecimento e capacidade de aplicar ferramentas e técnicas de gerenciamento de projetos (nosso exemplo) e onde começa as habilidades comportamentais que serão importantes (e necessárias) para atingir ótima performance e consequentemente melhores resultados para organização

Observe a frase do escritor e estudioso Ralph Waldo Emerson, utilizada em várias publicações no mundo:

“São muitos os métodos, mas pouco os princípios. Quem domina os princípios pode escolher com sucesso os próprios métodos. Quem tenta adotar os métodos ignorando os princípios com certeza enfrentará problemas. ”  – Ralph Waldo Emerson

Até quando a experiência que se torna viciosa com o tempo pode nos influenciar a uma limitação técnica e criar barreiras para aplicar, explorar e desenvolver toda nossa capacidade (algo que é esperado pelas organizações e por nós profissionais também).

Um profissional que está com 05, 10 anos desempenhando um papel que leva a falsa impressão de “ser” de fato gerente de projetos, se transformou em uma pessoa que só elabora e preenche relatórios maravilhosos, as vezes faz atas de reuniões, mas que infelizmente não atendem mais e não são suficientes (inclusive visto como incompetente por outros) para as expectativas de partes interessadas de alto poder e influência, ou seja, o nível executivo daquela organização.

O que aconteceu com todo o conhecimento adquirido (certificação, MBAs, cursos, estudo)? (Lembra dos princípios?)

 

A EXPERIÊNCIA
Uma coisa é certa, 05, 10, 15 anos são tempos de “KM rodados” e isso ninguém e nenhuma organização vai tirar isso de você (reflita sobre isso). Mesmo se identificando parcialmente com o exemplo descrito (profissional de projetos de Engenharia de Poço), talvez até no seu inconsciente não queira assumir que de fato você se transformou neste tipo de profissional; é importante lembrar que mesmo assim, estamos falando de TEMPO de aprendizado.

Novamente, não se limite tecnicamente, talvez já tenha feito isso ao bastante nos últimos anos e (agora) hora de mudar. Certamente você não passou 05, 10, 15 anos em uma sala trabalhando sozinho, você se relacionou com pessoas e aprendeu muito com isso ao longo destes anos. (Atenção temos um potencial a ser explorado em mãos!)

 

A TRANSIÇÃO
Este tipo de profissional sem perceber se “contaminou” com uma algo que chamo de “vícios da experiência”, ou seja, perdeu quase que por completo a capacidade de aplicar conhecimento e explorar tudo aquilo que buscou em sua trajetória (conhecimento) com objetivo de crescimento e reconhecimento profissional.

Infelizmente, veio uma coisa chamada “crise” e por estas caraterísticas (apresentadas neste post) acabou sendo “cortado” como um dos primeiros, simplesmente por não estar entregando valor para a organização. Feito “o corte” agora o profissional, precisa começar de novo. Precisa?

Vamos a um possível cenário: Profissional com 15 anos de experiência em projetos de ENGENHARIA DE POÇO buscando realocação.

Ao observar isso, recrutadores ou mesmo empresas que tem vagas vão pensar: “eu não preciso de conhecimento em perfuração de poço eu preciso de um gerente de projetos. ” COMO FAZER?

A primeira recomendação que tenho é de fato a transição de Especialista para Generalista. Um profissional especializado em gerenciamento de projetos (nosso exemplo) está “apto” ou melhor dizendo preparado (com mínimas condições de conhecimento) de gerenciar projetos de qualquer natureza (voltamos aos “princípios”). Aqueles 05, 10, 15 anos em projetos de perfuração de poço, são na verdade anos de experiência em gestão de projetos de grande porte no segmento de energia. Mesmo com as limitações técnicas citadas (elaboração de relatórios e atas e etc.) o profissional vivenciou “anos” naquele tipo de projeto. E isso faz a diferencial para uma vaga em específico.

É importante dar a visão de sua experiência para o mercado com base nos princípios e não nos métodos! (Isso faz a diferença).

Outro aspecto importante é buscarmos continuamente conhecimento, que sempre estará limitado a disponibilidade de recursos para investimento; não olhando somente o aspecto de dinheiro para fazer cursos, certificação, MBA e/ou afins, ou seja, não pode ser a justificativa de “não fazer”, até porque em tempos atuais é possível via educação à distância (por exemplo) acessar gratuitamente cursos nas mais prestigiadas universidades do mundo e sem custo. E este conhecimento vai elevar cada vez mais sua capacidade profissional, até mesmo para uma entrevista, onde será avaliado qual o seu diferencial para aquela oportunidade. Pense nisso!

 

CONCLUSÃO
Muitas vezes ficamos presos a “portas que se fecharam” e isso nos limita. Buscar outros caminhos alternativos de uma forma diferente de como foi feito nos últimos tempos é uma forma de olhar para outras portas que estão se abrindo.

Buscar conhecimento, fazer networking, ter uma nova postura profissional no mercado (este post leva a reflexão), ler, conversar ou mesmo determinar estratégias para os próximos passos pode te levar a novas perspectivas de sucesso. Não se limite a “crise”, e sim a oportunidade que ela proporciona.

Identifique o máximo de ações para os seus “próximos passos” e priorize-as de acordo com suas expectativas e objetivos. Quando mudamos a visão fica muito mais fácil identificar oportunidades. Priorize-as de acordo com seus objetivos. Porter diz que determinar também “o que não vai ser feito” é parte da estratégia (importante lembrar quando temos um volume de oportunidades que excedem nossas capacidades). Sem estratégia a única coisa que vai acontecer é o tempo passar.

Você era especialista e agora? Chegou a hora de ser generalista. Temos uma estratégia a seguir.

Desejo muito sucesso a vocês!

 

REFERÊNCIAS

  • ALEEN, David. A Arte de Fazer Acontecer – O método GTD – Geeting Things Done. Ed. Sextante, 2015.
  • Porter, Michael E. (1996) “What is Strategy”, Harvard Business Review, Nov/Dec 1996.
  • FREITAS, Carlos Augusto. Gestão Estratégica por meio de Projetos, Programas e Portfólio. Ed. Brasport, 2016

 Este “post”  foi escrito por Carlos Augusto Freitas (Especialista em Gerenciamento de Projetos, PMO e Governança em Projetos, Autor, Professor e Diretor Executivo da empresa CAF – Facilities Management)

Autor do livro  Gestão Estratégia por meio de Projetos, Programas e Portfólio (Brasport, 2016) e o do linkedin post “A Importância da Governança em Projetos“.

 

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